O perdão é muito mais do que fazer as pazes. O perdão não faz bem somente a quem é perdoado, mas principalmente a quem perdoou!
Perdão, uma palavra que só de ouvir nos assusta. Justamente porque a maioria das pessoas tem dificuldade em perdoar e de pedir perdão. É desafiador perdoar, pois o perdão é frequentemente confundido com reconciliação ou esquecimento. No entanto, ele não é nem uma coisa, nem outra. Também não é aquela indiferença ressentida de quem perdoa com ares de superioridade, como se estivesse dando mais uma chance.
O perdão é um processo, acontece quando encaramos a situação e escolhemos seguir adiante, porque perdoar é do nosso interesse, porque queremos nos libertar. Então, o ressentimento é uma forma de acorrentamento e perdoar corta o laço, libera, liberta!
Entretanto, erramos quando definimos perdão como fazer as pazes. Quando perdoo, significa que eu compreendo as causas e condições que levaram você (uma pessoa) a ter uma atitude inadequada, e entendo que não sou eu quem vai te julgar. Portanto, compreendo que eu não sou seu inimigo porque você não corresponde aos meus ideais de ser humano. Estou me purificando e renovando.
O perdão começa pela aceitação. Aceitação do fato de que as pessoas falham, ofendem, não porque sejam más. Mas porque são pessoas, são humanos. Todas as pessoas cometem erros e falham nesta vida.
Perdoar leva tempo. Normalmente não acontece de forma rápida, pode vir aos poucos, um movimento de cada vez, conforme cresce a nossa compreensão da fraqueza e da fragilidade da condição humana e da forma como sentimos o que nos acontece.
Perdoar não implica gostar da pessoa a quem perdoamos. A relação anterior pode ser restabelecida ou não. O importante é que a mágoa se dissolva e que não haja mais credores nem devedores. O perdão não precisa ser comunicado verbalmente, basta apenas ser sentido. Quando mudam os nossos sentimentos, mudam nossas atitudes.
O perdão é muito mais intenso. A desculpa tira a culpa, mas não a responsabilidade. Errar não é obrigatório, mas uma possibilidade. O perdão é “eu sei” e não vou trazer mais isso para a nossa convivência.
A vingança é a ausência do perdão, é a necessidade de dar o troco. Às vezes temos a falsa esperança que se nos vingarmos seremos felizes. A ideia de que você possa ficar satisfeito com a revanche é totalmente vazia. O desejo da vingança é autodestrutivo, faz mal a nós mesmos.
É em relação a nós mesmos. O auto perdão muitas vezes é mais difícil do que perdoar os outros. Expressões como “desperdicei tanto tempo”, “se pudesse voltar atrás faria tudo diferente” expressam a necessidade do auto perdão. Além de não mudarem o que foi feito ou dito contribuem para o desenvolvimento de sentimentos como remorso, auto piedade, vergonha e inadequação. Como diz Mário Sérgio Cortella: “Pessoas que vivem presas ao que aconteceu ou deixou de acontecer costumam ter um grande passado pela frente”.
Alguns indivíduos permanecem ressentidos uns com os outros e guardam uma mágoa contínua durante muito tempo, o que é extremamente prejudicial para ambos. Afinal, quem não perdoa, limita as suas possibilidades de amar.
O perdão é uma oportunidade para se libertar de amarras negativas do passado e seguir adiante. Sendo assim, perdoar é uma ação libertadora que simboliza a inteligência e permite o amadurecimento de uma pessoa. Não perdoar impede a chance de viver novas possibilidades e ter mais satisfação na vida pessoal.
Vejo pessoas tropeçarem e ficarem presas em um ciclo porque acreditam que, se perdoarem, será como se a mágoa inicial ou a traição nunca tivesse acontecido. O ato de perdoar é importante, pois nos liberta de sentimentos como o rancor, a raiva e a vingança, o ódio. Quando sentimentos negativos como esses dominam um ser humano, o pior dele se manifesta, desencadeando danos físicos e psíquicos a si mesmo e aos que o cercam.
Na tradição “Mindfulness”, perdoar os outros é a prática de se libertar de sofrer. Isso pode ser feito através da prática da compaixão. É entender que enquanto nós somos vítimas do sofrimento causado pelos outros, eles também são vítimas desse sofrimento. Entender a raiz do sofrimento pode te ajudar a entender melhor o processo de perdão e gradualmente oferecer uma liberdade espiritual e emocional para você que está perdoando.
Em uma pesquisa recente, o perdão está associado com um alívio do estresse psicológico melhorando patologias como a ansiedade, raiva e depressão. Em publicações científicas o perdão é definido como o processo de desistir da vingança, dos ressentimentos e de julgamentos duros contra a pessoa que causou dor e, ao invés de perpetuar todos esses sentimentos ruins, responder com gentileza, compaixão e generosidade.
Então, nós não perdoamos a outra pessoa em benefício dela, e não tentamos fingir que nada aconteceu. Em vez disso, nós nos perdoamos por nós mesmos. Nós fazemos isso para que possamos superar essa dor, para nos curar.
O perdão, pode levar a níveis mais baixos de estresse e ansiedade, menos depressão, relacionamentos mais saudáveis e mais próximos, um coração mais saudável, níveis mais baixos de pressão, de dor física, melhor sono, melhor funcionamento do sistema imunológico e muito mais. Ao perdoar, nos curamos de dentro para fora!
Até que perdoemos, somos nós que pagamos o preço mais alto. Nossas emoções presas podem se tornar tão esmagadoras que afetam nossos relacionamentos atuais e nossa capacidade de nos conectar de forma autêntica e amorosa conosco e com os outros.
Se nos apegarmos a estes sentimentos, não poderemos aproveitar o presente – e eles afetarão nossa saúde de várias maneiras. Ao perdoar, não vamos fingir que a mágoa inicial ou a traição nunca aconteceu. No entanto, quando perdoamos, estamos nos tornando livres. A pessoa que você perdoa ainda terá sua própria dívida cármica por todas as suas ações.
Quando nos concentramos em ressentimentos em relação aos outros ou a nós mesmos, não conseguimos ouvir as mensagens da nossa alma. Entretanto, quando deixamos para trás, conseguimos nos sintonizar mais profundamente.
Por fim, o perdão requer coragem, pois, por trás da nossa história pessoal de dor e sofrimento, temos sempre a opção de acessar nossa plenitude e aproveitar nossa alegria e compaixão inatas. Por fim, libertaremos nosso coração da prisão do ressentimento, da mágoa e estaremos abertos a um novo modo de ser e viver.
Roberta Sanzi. Todos os direitos Reservados